AS AVENTURAS DE UMA AEROMINA

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tunis, Tunísia

Sempre ouvi falar maravilhas sobre a Tunísia. Que lá estão os oásis mais lindos do mundo arábe, que a comida é deliciosa e que parte da costa se parece muito com as ilhas gregas. Por isso fiquei muito feliz quando me mandaram um pedido para trocar meu voo para Londres por um para Tunis.
Segui feliz da vida para o aeroporto. Foi o embarque mais maluco que já me aconteceu, parecia ônibus intermunicipal da Bahia na véspera de Ano Novo (passei por mais essa também). Depois disso, tudo seguiu na maior alegria. Passageiros simpáticos e fáceis de lidar (mais tarde vim a saber que metade deles são líbios).
Chegamos em Tunis, a capital do país por volta das 12h e já fui logo para a rua com uma comissária do Quênia. Pegamos um táxi no hotel para ir até o que sobrou da cidade de Carthage. Hoje um bairro de Tunis, Carthage é uma mistura de área residencial com ruínas romanas.
O taxi nos levou até a primeira delas, na entrada do bairro, os aquedutos construídos durante o Império Romano. Ao parar ali, o taxista -que também dava uma de guia turístico- veio com uma oferta. Ficaríamos com ele por duas horas e para isso pagaríamos 40 dinars cada. Uma piada! Taxis são extremamente baratos na Tunísia e a corrida do hotel até ali -que levou uns 20 minutos- deu apenas TDN 4,25. O cara continuou insistindo (e muito) até que descemos do carro. Ele se irritou, a gente se irritou...




O aqueduto

Andamos e tiramos fotos pela ruína e quando resolvemos sair dalí, percebemos que não tínhamos ideia de onde estavamos. Já que não aceitamos os seus serviços, o motorista nos largou no meio da estrada. Esse foi só o começo da jornada.
Com o mapa nas mãos, fomos andando em sentindo aos demais sítios históricos. A temperatura era de cerca de 35C, nada agrádavel para quem está perdido. Demorou, mas conseguimos pegar um táxi e fomos para o Museu, um dos pontos altos de Carthage. O ingresso para o museu custa 10 dinars e dá direito à entrada em todas as ruínas e monumentos de Carthage, o que é ótimo.
Já logo na entrada do museu, há guias turísticos tentando oferecer seus serviços. Eles falam todas as línguas que você puder imaginar e são o mais grudentos possível. Há dois tipos: os que tentam fazer você entrar numa barganha e te seguem (nesse caso, negue, agradeça e fique mudo. É difícil, mas resista, caso contrário não tem fim!) o segundo tipo é que aquele que não se identifica, vai explicando e dando informações e depois te cobra quanto ele quiser pelo serviço oferecido (esse não merece piedade. Na primeira frase dele já diga com firmeza que não quer um guia ou vai sobrar pra você. Se ele insitir saia andando).




Dentro e fora do museu 

Conseguimos ter um pouco de paz para andar pelo museu, que até que é bacana, embora não seja tudo aquilo que dizem. Lá estão expostas algumas peças como estátuas, vasos, mosaicos e mapas da antiga Carthage. Como tudo no museu tem também explicação em francês (na Tunisía se fala francês e arábe) e há muitos termos em latim, dá para a gente, que fala português, se virar.
Além dos guias que quase te obrigam a pagar pelos serviços, sentimos um grande mal-estar porque eramos as únicas pessoas no museu. Aliás, não havia quase turistas em Tunis. Embora a poeira já tivesse baixado -eu sabia disso porque tinha me informado com uma amiga tunisiana-  a cidade que depende do turismo estava às moscas.
Eu e minha colega concordamos que aquele ambiente vazio nos dava uma tristeza, mas ao mesmo tempo, nos dava medo. Na falta de turistas, as pessoas que dependem deles para viver pareciam estar desesperadas. Me senti como no filme A Noite dos Morto Vivos (www.imdb.com/title/tt0063350/). As pessoas nos olhavam de um jeito que parecia que iam nos comer vivas.  Meda! Fomos embora. De qualquer forma, vale a pena visitar o museu para apreciar a vista de lá de cima, que é linda.





A vista do museu. Alô mamãe!

Saímos de lá a procura do teatro romano e tentamos pegar um taxi. O motorista resmungou alguma coisa em francês e já foi tentando dar o golpe e levar a gente para dar uma volta. Como estou acostumada a pegar taxi no Rio de Janeiro, já pedi logo para que ele parasse o carro. O cara se irritou e disse, aos berros, que não pararia e o pau comeu dentro daquele carro. Não demorou até que ele resolveu pagar e claro, não pagamos tudo o que estava no taxímetro. Asshole!!!! Fiquei indignada e nãos fomos mais de taxi, você sabe... Aliás, nem precisava de taxi, as ruinas do teatro ficam bem perto do museu.
Visitamos o teatro e a vila e a sensação foi a mesma. Tudo estava abadonado e vazio. E depois daquele taxi, parecia filme de terror mesmo. Demos ainda uma olhadinha na mesquita, que é a única coisa cuidada por ali e nos mandamos para Sidi Bousaid, um bairro costeiro e mais bohemio de Tunis.



A vila


O teatro romano

Mesquita de Carthage

Sem nenhum problema com o taxista, chegamos até essa área que lembra mesmo a Grécia (em uma escala bem menor). As casas são todas brancas, construídas nas encostas de penhascos, com alguns restaurantes, bares e lojas de artesanatos. Uma delícia de lugar para ver o por-do-sol. Chegamos na hora certa.
Fiz umas comprinhas em uma das lojinhas de artesanatos que tem preços fixos (não barganhe, portanto) e andamos pelas ruelas de Sidi Bousaid. O clima foi ficando bem bacana com a chegada da noite e de locais que paravam para beber um chá e fumar shisha (narguile aí no Brasil). Haviam músicos tocando nas ruas, uma brisa vinda do mar, tudo incrível.




é nóis!

ruelas de Sidi Bousaid


Numa dessas casas, chamada Café Délice encontramos o copiloto do nosso voo e paramos por ali. Me animei ao ver cerveja no cardápio, mas ao dar o primeiro gole notei que era sem alcool. Seria ótimo num fim de tarde quente como aquela, mas bom demais para ser verdade, né? (ai, que saudades de um chopp gelado!). Bom, a Tunísia é um país muçulmano. Um pouco mais liberal que os do Golfo, mas ainda assim não se vende alcool em todos os estabelecimentos por aí. Geralmente, apenas os hotéis têm a licença para vender bebidas por causa do custo.
Pedi um suco de frutas que estava fabuloso e tive aquela discussão de sempre com o garçom de que peixe não é vegetal, e que eu queria apenas uma salada sem ovo, sem sardinha e sem qualquer outra coisa que não fosse mato (eu estava com fome, mas salada era a única alternativa). Fizeram uma bela salada, mas o cozinheiro não aguentou e colocou um ovo cozido. Ele deve ter ficado com medo que eu ficasse desnutrida ou algo assim. Achou engraçado? O pior é que isso é bem comum em qualquer lugar do mundo, viu? E me cobram depois!
A noite foi ótima. Já devidamente de barriga cheia e bêbados de cerveja sem alcool pedimos a conta e... supresa!!! Estava bem cara para os padrões. Aí, me veio a cabeça a imagem daqueles taxistas malandros e fiquei louca! Não deixei ninguém pagar nada e pedi a conta escrita e o cardápio para checar os preços. Não quiseram trazer. Disse que não ianmos pagar até ver a conta e o cardápio. Nessas horas as pessoas vêm com essa, que é mais velha que minha bisavó, de dizer que "não entendem inglês direito". Bom, revidei: "Eu também não falo francês e não vou pagar. Vou embora."
O cardápio e a conta apareceram. Com muita discussão mudaram alguns preços e tentaram cobrar mais sucos e cervejas que o que foi consumido. Apesar de não falar francês ou árabe, mostrei a conta para as pessoas das mesas ao lado e elas, com gestos, deixaram claro que aquilo estava errado. No final das contas, pagamos menos do que estava lá e caímos fora. Que bafo, minha gente!



A vista lá de cima

Salada com ovo e cerveja sem álcool. Roubada...

Pegamos um taxi para voltar ao hotel e lá veio aquele papo de novo. O motorista nos disse que deveriamos fechar um preço (sem ligar o taxímetro) em cem dinars porque àquela hora havia muito trânsito e ficaria caríssimo. Eu e a comissária queniana rimos até não poder mais, e claro, não aceitamos. Eu disse a ele que pagaria até TDN 200 se fosse o caso, mas que não fecharia preço nenhum. O copiloto era inglês, daquele tipo bem tapado, com cara de príncipe Charles. Se dissessem a ele que custava US$500, ele acreditaria. É impressionante como os ingleses podem ser o extremo de tudo. Os mais loucos, os mais tontos, os mais violentos, os mais cool, as garotas as mais bitches e por aí vai.
Meia hora depois, com todo o trânsito, a corrida ficou em 5, 75 paus. E o mané queria cenzinho! Eu costumava achar que brasileiro era cara-de-pau, mas nunca vi nada igual a isso. Tunis está de parabéns! Os caras não só querem arrancar sua grana, como subestimam (e muito) sua inteligência. Fizemos piada e até o próprio taxista riu da diferença de preço real à que ele propôs.
Chegamos a hotel são e salvos e decidimos tomar um drink a beira da piscina para desestressar depois daquelas discussões todas. Pedimos o cardápio ao garçom. Ele demorou e disse que não conseguiu achar. Perguntei os preços das bebidas e optei por um vinho branco. Quando veio a conta, surpresa!!!! Custava o dobro, hahahahaha! Toma mais essa!
Não dava para acreditar. Eu não estava em um albergue. Era um hotel da rede Golden Tulip, que pode não ser a melhor do planeta, mas que imagino não esteja tão mal assim das pernas a ponto de precisar enganar os hóspedes. A essa altura eu já estava cansada demais para brigar por uma taça de vinho e ficou por isso mesmo. Fui para cama dormir antes que alguém mais tentasse me extorquir.
No final das contas não sei dizer se tudo o que aconteceu foi por causa da crise que o país vive depois de seis meses de conflitos e ausência de turistas. Certamente a situação foi agravada e as pessoas estão desesperadas. Mas essa não é a melhor forma de ter os turístas de volta, certo?
Por mais que eu pense nos fatos e tente entender a situação daquele povo, não tenho mais vontade de voltar para lá tão cedo. Uma pena.


MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA EM TUNIS:

- de preferência esteja com alguém que fale francês ou árabe
- não feche preços com taxistas, exija taxímetro
- fique de olho no itinerário
- cheque os preços e confirme com o garçom antes de pedir
- se não houver cardápio, não peça
- certifique-se de que o que está sendo servindo é exatamente o que você pediu
- e o mais importante de tudo...

NÃO VÁ LÁ: Café Délice, em Sidi Bousaid,   a não ser que você queira aprontar com alguém!